Treinador Nível 1 – Iniciação
É esperado que treinadoras/es capacitados se apropriem de estratégias diversificadas e adequadas a fase de desenvolvimento esportivo dos iniciantes, como por exemplo, os jogos variados e que explorem a oposição, o alvo no oponente, a imprevisibilidade e o ataque e defesa simultâneos vão promover o aprendizado de um saber particular das atividades de combate: o saber lutar. A exploração desse saber nesta etapa da aprendizagem, de maneira diversificada, sem a cobrança das regras específicas por estilos de Wrestling, mas, que continuem habilidades, experiências e vivências que sejam transferíveis a modalidade, promoverão experiências amplas e divertidas que propiciarão maior preparo para os praticantes que continuarão na etapa seguinte, que será aprender e treinar, onde a especialização no Wrestling vai começar a acontecer.
Objetivo geral
Objetivos específicos
Formato do Programa Nível 1
Neste nível o foco é a diversificação das atividades. Então mesmo que os/as alunos/as estejam frequentando um treino/aula de Wrestling, é importante que treinadoras/es ofereçam múltiplas vivências motoras às/aos alunas/os.
É comum nessa faixa-etária termos dois tipos de alunas/os: aquelas/es que estão muito instigados com a prática de luta e aquelas/es que têm medo e insegurança na hora de lutar. Por isso, estabelecer os limites e a segurança de todos/as é primordial para que eles sigam no caminho da prática esportiva.
Um dos primeiros objetivos de aprendizagem nessa fase nas aulas de lutas é “quebrar as barreiras de contato” entre as/os alunas e alunos, ou seja, mostrar que só existe luta se houver contato e que a existência desse contato não precisa implicar em violência ou medo. Jogos cooperativos onde um precisa carregar ou
abraçar o outro são ótimas ferramentas para auxiliar na normatização do contato e isso pode estar associado ao desenvolvimento de habilidades motoras básicas, como correr, deslocar-se em diferentes apoios, coordenação de membros superiores e inferiores, entre outras.
Podemos usar conhecimento de outras modalidades de combate como recursos para o ensino da lógica de luta como os exemplos: deslocamentos e manipulação da esgrima e do kendo; alavancas, desequilíbrios e distribuição de peso do judô, jiu-jitsu, sumô; movimentação, ritmo e habilidades coordenativas do taekwondo, boxe, karatê, muay thai, dentre outras inúmeras possibilidades que cada treinadora/or conheça e ache interessante levar para as aulas. Podemos também utilizar movimentos e habilidades de outros esportes nesse processo de letramento, como a ginástica e seus elementos acrobáticos (cambalhotas, parada de mão, estrela, ponte, combinações entre esses elementos).
Em relação às crianças, meninas e meninos apresentam características semelhantes de crescimento e desenvolvimento e, teoricamente, poderiam ter um desenvolvimento esportivo parecido. Entretanto, sabemos que os estímulos e oportunidades fazem muita diferença no desenvolvimento das crianças e as meninas geralmente recebem menos estímulos esportivos nessa fase devido à barreiras sociais e culturais. Um exemplo clássico é “luta não é para meninas” e logo na primeira infância já é retirado delas o direito de jogar bola ou de começar a lutar porque seria inapropriado para o gênero feminino.
Entendemos que essas barreiras podem ser combatidas por políticas públicas que visam a igualdade de gênero, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido nesse âmbito. Por isso, orientamos as/os treinadoras/res a oferecerem os mesmos estímulos esportivos para ambos gêneros nessa etapa de desenvolvimento, para que as meninas atravessem seu caminho da medalha com uma base esportiva semelhante à dos meninos. Visando reparar danos históricos e recuperar o interesse de meninas em um esporte que socialmente é mais aceito para meninos, precisamos promover ações afirmativas com o objetivo de aumentar a participação feminina no esporte. Criar espaços psicologicamente seguros para a prática do esporte implica em criar um ambiente onde elas possam se colocar vulneráveis para experimentar movimentos se permitindo errar, tentar de novo e acertar, convivendo com pessoas com desenvolvimento similar e sem se preocupar com o contato corporal predominante neste esporte, que é algo experienciado por muitos com desconforto, principalmente quando com pessoas do sexo oposto.
Desta forma, deve-se avaliar dentro do grupo de alunas/os a necessidade de separar as turmas por gênero ou mantê-las mistas, atentando para não reforçar estereótipos de que meninas são “café com leite” ou tem mais dificuldade para aprender a lutar. Um dos caminhos comuns, porém equivocado nessa fase, é o esporte se transformar em uma prática para “mini-adultos” seguindo os mesmos moldes de treinamento do alto rendimento, com algumas adaptações nas regras.
Desejamos romper com esse modelo no sentido de oferecer uma base ampla de movimentos genéricos antes de se especializar nos movimentos de luta, evitando a sobrecarga física e psicológica. Vivências com acrobacias da ginástica, elementos do circo, da capoeira, do atletismo e da dança, assim como componentes de outras modalidades de luta podem e devem ser muito explorados. Sugerimos a ampla exploração dos jogos de oposição e brincadeiras de luta que podem conservar toda a lógica do lutar ou parte dela para enfatizar determinados elementos. Exemplo: desejo numa determinada aula desenvolver a noção de evitar que as costas encostem no chão na hora da luta. Antes de colocar as crianças num jogo completamente imprevisível onde ambos tenham o mesmo objetivo eu posso dividir os objetivos, dando papéis específicos para cada aluna/o. Ou seja, enquanto um tenta fazer o outro encostar as costas do chão saindo da posição de 4 apoios o outro deve apenas tentar impedir que isso aconteça.
Nesse sentido, oferecer jogos coletivos e/ou cooperativos onde todos tenham a função de cumprir aquela tarefa juntos pode ser uma abordagem interessante para desenvolver elementos técnico-táticos genéricos do Wrestling.
Exemplo: 1 aluno é um polvo e se arrasta pelo chão (sentado) usando braços e pernas, os outros são peixinhos que se locomovem “nadando” de barriga para baixo. O objetivo do polvo vai ser segurar um peixinho com as costas (invertendo ele) no chão por 3 segundos. Quando isso acontecer o peixe vira polvo e eles seguem invertendo todos os peixes em polvo até que todos virem polvo.
Como esta etapa ainda tem o intuito de letramento corporal, direcionando esse aprendizado levemente para a luta, sugerimos que a frequência semanal aconteça de 1 a 3 vezes por semana no máximo, para evitar a especialização da criança em apenas uma modalidade e para que ela consiga ter outras experiências corporais livres e/ou também sistematizadas fora dali.