TREINADORA / TREINADOR : Pedagogia do treinamento

TREINADORAS E TREINADORES

Nesta etapa, meninas e meninos apresentam características semelhantes de crescimento e desenvolvimento e, teoricamente, poderiam ter um desenvolvimento esportivo parecido. Entretanto, sabemos que os estímulos e oportunidades fazem muita diferença no desenvolvimento das crianças e as meninas geralmente recebem menos estímulos esportivos nessa fase devido à barreiras sociais e culturais. Um exemplo clássico é “luta não é para meninas” e logo na primeira infância já é retirado delas o direito de jogar bola ou de começar a lutar porque seria inapropriado para o gênero feminino.

Entendemos que essas barreiras podem ser combatidas por políticas públicas que visam a igualdade de gênero, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido nesse âmbito. Por isso, orientamos as/os treinadoras/ res a oferecerem os mesmos estímulos esportivos para ambos gêneros nessa etapa de desenvolvimento, para que as meninas atravessem seu caminho da medalha com uma base esportiva semelhante à dos meninos.

Visando reparar danos históricos e recuperar o interesse de meninas em um esporte que socialmente é mais aceito para meninos, precisamos promover ações afirmativas com o objetivo de aumentar a participação feminina no esporte. Criar espaços psicologicamente seguros para a prática do esporte implica em criar um ambiente onde elas possam se colocar vulneráveis para experimentar movimentos se permitindo errar, tentar de novo e acertar, convivendo com pessoas com desenvolvimento similar e sem se preocupar com o contato corporal predominante neste esporte, que é algo experienciado por muitos com desconforto, principalmente quando com pessoas do sexo oposto.

Desta forma, deve-se avaliar dentro do grupo de alunas/os a necessidade de separar as turmas por gênero ou mantê-las mistas, atentando para não reforçar estereótipos de que meninas são “café com leite” ou tem mais dificuldade para aprender a lutar.


Um dos caminhos comuns, porém equivocado nessa fase, é o esporte se transformar em uma prática para “mini-adultos” seguindo os mesmos moldes de treinamento do alto rendimento, com algumas adaptações nas regras. Desejamos romper com esse modelo no sentido de oferecer uma base ampla de movimentos genéricos antes de se especializar nos movimentos de luta, evitando a sobrecarga física e psicológica.


Vivências com acrobacias da ginástica, elementos do circo, da capoeira, do atletismo e da dança, assim como componentes de outras modalidades de luta podem e devem ser muito explorados. Sugerimos a ampla exploração dos jogos de oposição e brincadeiras de luta que podem conservar toda a lógica do lutar ou parte dela para enfatizar determinados elementos.

Exemplo: desejo numa determinada aula desenvolver a noção de evitar que as costas encostem no chão na hora da luta. Antes de colocar as crianças num jogo completamente imprevisível onde ambos tenham o mesmo objetivo eu posso dividir os objetivos, dando papéis específicos para cada aluna/o. Ou seja, enquanto um tenta fazer o outro encostar as costas do chão saindo da posição de 4 apoios o outro deve apenas tentar impedir que isso aconteça.


Nesse sentido, oferecer jogos coletivos e/ou cooperativos onde todos tenham a função de cumprir aquela tarefa juntos pode ser uma abordagem interessante para desenvolver elementos técnico-táticos genéricos do Wrestling.


Exemplo: 1 aluno é um polvo e se arrasta pelo chão (sentado) usando braços e pernas, os outros são peixinhos que se locomovem “nadando” de barriga para baixo.
O objetivo do polvo vai ser segurar um peixinho com as costas (invertendo ele) no chão por 3 segundos. Quando isso acontecer o peixe vira polvo e eles seguem invertendo todos os peixes em polvo até que todos virem polvo. Como esta etapa ainda tem o intuito de letramento corporal, direcionando esse aprendizado levemente para a luta, sugerimos que a frequência semanal aconteça de 1 a 3 vezes por semana no máximo, para evitar a especialização da criança em apenas uma modalidade e para que ela consiga ter outras experiências corporais livres e/ou também sistematizadas fora dali.

Jogos de Combate

Através dos jogos de combate, que podem ser um pegando o “rabo” (fitinha) das costas do outro, desamarrando uma corda/faixa da cintura, puxando/empurrando de dentro de um bambolê, por exemplo, elas/es aprendem a lógica da luta: um alvo no oponente, um contato intencional para atingir esse alvo, ações de ataque e defesa que podem ser simultâneas, situações imprevisíveis e sempre balizadas pelas regras que a treinadora/or vai colocar.

Exemplos de Jogos de Combate:

1 – Bucking Bronco

2 – Disputa pela Bola

3 – Mantenha Fora

4 – Luta Carangueijo

5 – Pedras Rolando

6 – Cambalhota Lateral

Planejamento

VivênciasJogos de oposição variados que explorem diferentes distâncias (curta, média, longa) em pé e no solo;
Jogos de oposição que manipulem e adaptem regras do Wrestling;
Explorar habilidades motoras como agilidade, equilíbrio, coordenação e velocidade e força;
Desenvolver o uso e entendimento do peso corporal ao seu favor;
Não é necessário focar em apenas um estilo;
Frequência3 a 6 vezes semanais;
60 a 80 minutos por sessão;
Ações técnico-táticasVivência de ações genéricas do Wrestling;
Derrubar, empurrar, projetar e cair a partida da posição em pé;
Virar, arrancar, projetar e cair a partir da posição do solo;
Três fundamentos: Pegada (controle), ataque e defesa;
Pegada: Punho, cotovelo, dois em um;
Ataque: Perna / Tronco / Solo / Combinação;
Defesa: Em pé: extensão, mudança de direção e compressão;
No solo: Defesa de tronco, barra de braço do meio nelson, tornozelo cruzado, defesa de turca;
Deslocamentos com a base da luta / deslocamentos em 4 apoios / a busca pelo contato físico / ataque e defesa simultâneos / tração;
Movimentação e regras que levem à posição de luta em pé e no solo;
Jogos que induzam a atenção para a zona;

Código de técnicas no currículo:
A3 A4 B7 C12 M71 M73 M82 N84
CompetiçãoFestivais – 2 a 3 por ano
Iniciação na competição: jogo de oposição com introdução regra básica – Nível local;
Competição de modelação onde o participante não possa repetir a técnica com o objetivo de aumentar o repertório técnico e evitar a especialização em somente um golpe;
DesenvolvimentoProgramas de educação para as famílias, estimulando a participação saudável na vida esportiva das crianças;
Apoio ao desenvolvimento profissional (gestoras/es e professoras/es) para atuação em programas esportivos estruturados na infância;
IndicadoresAumento da popularidade do Wrestling;
Quantidade de crianças praticantes por gênero;
Taxas de ocupação/assiduidade/permanência nos programas de iniciação;